Após cerca de 45 dias em isolamento social, consegui visualizar a quantidade de lixo gerada diariamente em uma única casa, e, apesar de assustador ao projetarmos isso para todas as pessoas do globo, me ajudou a entender a importância da logística reversa não só para o momento atual, mas, principalmente, para o cenário pós COVID-19.
Não há dúvidas que o COVID-19 está trazendo muitos impactos negativos como a pausa da coleta seletiva em diversos estados para evitar a sua propagação (que levará grande parte dos recicláveis, nesse momento, para aterros), ou ainda o impacto na saúde das pessoas (mais de três milhões de infectados e, destes, mais de 250 mil mortes no mundo todo) e nas relações econômicas a nível mundial (índice de desemprego subiu vertiginosamente, assim como empresas que declararam falência neste período). A contrapartida, do ponto de vista ambiental, é que teremos uma expectativa de redução nas emissões de CO2 em torno de 5% e que energias renováveis serão a única fonte de energia a ter crescimento na matriz energética do mundo de acordo com a Carbon Brief. Ou seja, podemos escolher ver o copo meio cheio e fazer o nosso melhor com isso.
Neste contexto, a logística reversa de embalagens aliada à tecnologia, é uma das ferramentas mais importantes para nos ajudar a evitar uma crise sanitária e ambiental pós COVID-19. É o que observamos através dos benefícios provenientes do aumento de projetos de centrais de triagem automatizada chamadas MRF (Material Recovery Facility). Estas centrais triam os resíduos sólidos urbanos de forma automática, complementando a coleta seletiva e o serviço das cooperativas. Um exemplo de MRF possibilitou na cidade de São Paulo, mesmo em tempos de COVID-19, que os resíduos coletados na coleta seletiva fossem destinados para duas centrais de triagem automatizadas e os recicláveis triados fossem destinados à reciclagem.
Para que a logística reversa possa de fato realizar uma mudança estrutural a nível Brasil é essencial repensarmos o ciclo do produto e o engajamento de todos os atores. Só assim podemos amadurecer a cadeia de reciclagem no Brasil. Olhando para o futuro, em um cenário positivo, ao cumprirmos nosso papel de conscientizadores acerca da importância da logística reversa e reciclagem, o consumidor pós COVID-19 estará mais preocupado com o planeta e, após refletir que o lixo que gera quase não é reciclado (no Brasil, reciclamos menos de 5% dos resíduos), terá um posicionamento mais crítico com as marcas das quais consome e optará por produtos mais sustentáveis. Desta forma, as empresas repensarão os seus tipos de embalagens para diminuição dos resíduos e desenvolverão embalagens mais recicláveis ao mesmo tempo que apoiam programas que realizam ou fomentam a reciclagem.
Para complementar, os órgãos reguladores que, mesmo antes da discussão do COVID-19, já aumentavam a fiscalização da implementação da logística reversa para aumentarmos os percentuais de reciclagem no nosso país, estarão ainda mais engajados com essa pauta. Por exemplo, aqui no estado de São Paulo, a Cetesb criou a DD 114, na qual ela associa a obtenção da licença de operação ao cumprimento da logística reversa pelas empresas. Em outros lugares do mundo, tivemos casos positivos do aumento dos percentuais de reciclagem com a participação efetiva dos reguladores, como a Espanha, por exemplo, que, de 5% de embalagens pós consumo recicladas em 1998, saltou para quase 80% em 2018.
Do ponto de vista dos investimentos financeiros, as ações dos órgãos reguladores quanto à logística reversa em uníssono com o consumo mais consciente facilitam o investimento massivo no setor, visando o aumento da capacidade de reciclagem.
Por fim, todas as discussões sobre sustentabilidade que vêm ocorrendo antes e durante a quarentena só reforçam que o planeta é um organismo único e que todas as ações que irão estender sua longevidade serão muito bem recebidas pela sociedade. Do ponto de vista da reciclagem, consumidores mais conscientes, reguladores desenvolvendo ações efetivas e o nível de investimento da iniciativa privada serão fatores preponderantes para alavancar os percentuais de reciclagem aqui no Brasil. Assim, aumentando a reutilização e a reciclagem das embalagens vamos contribuir para que o planeta Terra (a nossa casa!) esteja apto para nos abrigar por muitos e muitos anos.
Um grande abraço (virtual), fiquem bem e boa reciclagem para todos nós!
Artigo orginalmente publicado no Linkedin e desenvolvido pelo Marcos Mato, Diretor de Novos Negócios e Marketing na eureciclo.