Descubra os principais gargalos na cadeia de reciclagem do Brasil através do Diogo Campos, Coordenador Comercial da Estre Ambiental empresa operadora de triagem de materiais atuante desde 1999.
No Brasil, 90% do lixo é coletado mas apenas 3% do resíduo reciclável é reciclado de fato. No início do ciclo de vida da embalagem, ela é a solução de um problema, seja para proteção de alimentos ou para um transporte mais seguro. No final do ciclo de vida, pode acabar se tornando um problema ambiental e econômico de grande impacto.
Mais de R$ 8 bi por ano são desperdiçados na economia por conta do alto percentual de materiais não destinados à reciclagem, segundo Relatório de Pesquisa publicado pelo Ipea em 2010.
O que nos leva a refletir: quais seriam os principais gargalos que impedem a cadeia de reciclagem no Brasil de fluir em seu total potencial?
Para responder essa questão, entrevistamos o Diogo Campos, Coordenador Comercial da Estre Ambiental, parceira da eureciclo e responsável pelo tratamento e transformação de resíduos (reciclagem energética e mecânica), além do gerenciamento de aterros sanitários.
Desde 1999, a Estre está na ponta da cadeia de reciclagem como uma das maiores empresas de serviços ambientais do Brasil. Mais de 3.000 toneladas são mensalmente destinadas à reciclagem. Ainda assim, 99,3% de todos os resíduos que chegam mensalmente em suas operações, cerca de 439.000 toneladas, são rejeitos e não materiais potencialmente recicláveis.
Descubra os principais motivos para essa realidade abaixo!
Muitos tipos de materiais não são reciclados
Ainda que o consumidor descarte todas as embalagens e resíduos adequadamente, muitos tipos de materiais não são realmente reciclados. Isso pode acontecer por vários motivos.
Segundo o Diogo, o plástico pós-consumo, aquele descartado pelo consumidor, chega muito sujo e a lavagem sai muito cara. Logo, o custo para reciclar é maior do que o ganho com a venda do material, portanto, o processo se torna economicamente inviável e chega a gerar prejuízo.
Um exemplo são as sacolinhas plásticas de supermercado, embalagens de arroz, de biscoitos. O custo de lavá-las não compensa, visto que são super leves e de um material flexível que ao ser reciclado resulta em produto de pouca qualidade.
Diogo diz que a conscientização dos consumidores sobre os materiais que podem ser realmente reciclados, a limpeza e separação adequada dos materiais ajudaria muito na questão da contaminação e depende dos indivíduos.
Quais as soluções para a valorização e reciclagem dos materiais?
Campos aponta que para aumentar os índices de reciclabilidade de cada material é necessário a co-responsabilidade das empresas e a valorização da cadeia de reciclagem através do compromisso com o ciclo de vida das embalagens.
Segundo ele, o PP (polipropileno, plástico da embalagem de alguns biscoitos), BOPP (embalagem de alguns salgadinhos ou de café, que têm uma camada metalizada), o trilaminado (caixa de leite) são todos materiais normalmente destinados para a reciclagem energética, por possuírem a reciclagem muito complexa.
A reciclagem energética visa a transformação do resíduo através da queima em ambiente controlado para criação de energia. Campos afirma que destina cerca de 4-5 mil toneladas por mês para abastecer as cimenteiras, que usam o Combustível Derivado de Resíduos (CDR) para substituir parcialmente o uso de combustíveis fósseis. Hoje em dia, essa é uma saída para muito tipos de resíduos.
No entanto, no ranking dos tipos de destinações, a reciclagem mecânica é a melhor para o meio-ambiente e prolonga o ciclo de vida dos materiais. Ela se baseia em transformar algum resíduo em matéria-prima útil para fabricação de um outro produto por meio de fases como separação, moagem, lavagem, secagem, compactação, extrusão, granulação e fornecimento. No caso das embalagens após o uso pelo consumidor, esse tipo de reciclagem acontece principalmente com alumínio (latas de bebida), aço (latas de comida) e garrafas PET.
Por fim, Diogo nos conta que há ainda outras alternativas, como a reciclagem química, a qual conseguiria reciclar 100% dos materiais e resolveria o problema daqueles de difícil reciclagem. Os grandes obstáculos desse tipo de reciclagem, além da sua complexidade, é o custo.
“A reciclagem química requer um investimento altíssimo: cerca de 10 milhões. Não conheço ainda nenhuma empresa que faz esse tipo de trabalho em escala, no Brasil. No mundo perfeito seria incrível que a triagem dos materiais ocorressem de forma mecanizada e fossem enviadas direto para reciclagem química, aumentando suas chances de reciclagem.” Afirma Diogo.
Qual a importância dos certificados de reciclagem e da solução eureciclo para cadeia de reciclagem?
Diogo expressa: “A eureciclo é um HUB com todos os stakeholders da cadeia de reciclagem. É uma solução disruptiva. Como auditora e certificadora é o que torna possível toda a comprovação da compensação ambiental. Configurando a união dos elos e dos atores para que o aumento dos níveis de reciclagem sejam possíveis. Então, de um lado temos vocês chancelando, auditando o processo, e do outro temos a Estre, além de outros operadores, para operacionalizar a triagem e reciclagem.
Essa união que é o diferencial para um futuro mais sustentável. É olharmos para o ciclo de vida dos produtos e para cadeia de reciclagem buscando formas de fazer isso fluir.”
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