Lições aprendidas no II Panorama Nacional de Logística Reversa

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Descubra os principais aprendizados do II Panorama Nacional de Logística Reversa através da Jéssica Doumit, diretora jurídica da eureciclo.

No final de maio de 2021, tive a honra de moderar o II Panorama Nacional de Logística Reversa e quero compartilhar alguns insights com você!

Antes disso, você pode conferir o último Panorama Nacional de Logística Reversa em sua quarta edição:

No II Panorama Nacional de Logística Reversa, que ocorreu em maio de 2021, lançamos o Relatório de Desempenho eureciclo sintetizando os principais resultados e impactos do selo no ano de 2020. 

E que grandes resultados tivemos em 2020! Mesmo em um ano desafiador por conta da pandemia do Covid-19, a eureciclo conseguiu marcos excepcionais:

  • Foram firmados termos de compromisso com órgãos ambientais do Mato Grosso do Sul e Amazonas, consolidando a eureciclo em 22 estados do Brasil;
  • Mais de 3.700 empresas de 90 setores diferentes da indústria assinaram contrato conosco, o que caracteriza um aumento de 81,33% em comparação com 2019. Isso representa um impacto de 100 mil toneladas de recicláveis que foram reintroduzidos nas cadeias de produção dessas empresas;
  • Fomos o único sistema auditado em três anos consecutivos, assegurando 100% da rastreabilidade via notas fiscais;
  • Expandimos a nossa rede de parceiros para 11.332 atores da cadeia de reciclagem cadastrados no Brasil e no Chile.

Além dos destaques citados, quero deixar mais alguns números da comparação entre os anos de 2019 e 2020, que foram apresentados no relatório e que considero importante compartilhar com vocês, pois muito nos motiva e nos enche de orgulho:

  • Em 2020, houve um aumento de 62,94% na quantidade de massa total certificada (de 445.191 toneladas em 2019 para 725.402 em 2020);
  • O superávit foi de 55,08% em massa total compensada (de 68.536 toneladas em 2019 para 106.282 em 2020);
  • Crescimento de 39,12% de notas fiscais recebidas (de 270.294 em 2019 para 376.038 em 2020);
  • Tivemos também um aumento de 60,08% na porcentagem média do aumento da receita dos operadores (de 7,24% em 2019 para 11,59% em 2020);
  • Subimos de 80, em 2019, para 115 operadores e cooperativas parceiras em 2020 (43,75% de crescimento);
  • A remuneração dos operadores parceiros subiu de R$ 3.241.731,19 para R$ 5.822.299,16 entre 2019 e 2020 (79,6% de diferença).

Esses resultados podem parecer surpreendentes (e realmente são), mas servem para mostrar a eficiência do modelo de certificação da logística reversa promovido pela eureciclo que, em conjunto com todos os seus parceiros, busca construir um mundo mais sustentável,  atribuindo valor e incentivo à cadeia de reciclagem no Brasil. 

No evento, contamos também com a presença de diversos convidados ilustres e de grande relevância no cenário da Logística Reversa: Luis Fernando Barreto, promotor de justiça do Ministério Público do Maranhão; Nathan Herszkowicz, presidente executivo do Sindicafé/SP e Presidente do Conselho Gestor do Instituto Rever; Ricardo Garcia, especialista do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da FIESP e Diretor Executivo do Instituto Rever; e o engenheiro Valmi Simão de Lima, Superintendente de Licenciamento – SUIMIS/SEMA do Mato Grosso.

Com tantas referências na área de sustentabilidade, o debate se tornou uma ponte para diálogos mais estruturantes no que tange o desenvolvimento da logística reversa de embalagens no Brasil.

Separei então algumas citações importantes de nossos convidados para a reflexão do tema:

“A logística reversa é a solução”

Não teria como concordar mais com essa afirmação do Doutor Luis Barreto. A logística reversa está presente na Política Nacional de Resíduos Sólidos, que a define como “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”.

Afinal, o que isso quer dizer? Após consumirmos um produto, ao invés de o descartarmos de forma que ele vá para um aterro ou, até mesmo, irregularmente para um lixão, esse resíduo – seja ele uma embalagem, um pneu, um aparelho eletrônico etc. – será reinserido na cadeia de produção para gerar um novo produto. 

Além de reduzirmos a destinação inadequada dos materiais, que poderiam ser encaminhados para lixões ou aterros controlados e sanitários, por exemplo, o implemento da logística reversa traz mais um benefício para o meio ambiente: evita-se que recursos virgens sejam utilizados para a produção de novos materiais.

Nesse sentido, trazendo a visão que o Ministério Público do Maranhão tem do assunto, Barreto apontou que a logística reversa é o ponto mais importante para eles. Isso se deve ao fato de ela ser imprescindível no cumprimento do 1º item do Artigo 9º do PNRS, que define as seguintes ordens de prioridade na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Já vimos que a logística reversa causa um impacto positivo muito grande no meio ambiente,  e ainda há vários outros benefícios que podemos aprofundar. Em sua fala, o Dr. Barreto também aponta:

“Temos de saber aproveitar as oportunidades econômicas que o resíduo traz” 

A logística reversa está  diretamente conectada ao conceito de economia circular, que tem como princípio o aproveitamento máximo dos recursos e a cadeia de produção contínua (ou circular, como o próprio nome já diz). O promotor de justiça destacou que em uma economia em que não se é circular, o que prevalece é o desperdício. 

Nós chamamos isso de economia linear, ainda muito praticada no mundo e que tem efeitos devastadores para a natureza. Nela, o consumidor compra, desfruta e descarta – seja a embalagem ou o próprio produto quando ele estraga – enquanto na circular, o produto retorna para o ciclo de produção. 

Numa economia circular, além dos impactos ambientais positivos já citados, as vantagens são inúmeras. Do ponto de vista econômico, vale dizer que no Brasil, são gerados quase 80 milhões de toneladas de lixo e somente 4% são reciclados, segundo a  Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Com isso, ainda de acordo com a instituição, ao não reciclar seus resíduos, o Brasil perde R$ 14 bilhões por ano!

Além disso, o bom gerenciamento dos resíduos sólidos gera ganhos sociais. Há cerca de 800 mil catadores de resíduos sólidos no Brasil que respondem pela coleta de 90% desses materiais. Portanto, a logística reversa gera emprego e o desenvolvimento econômico de uma parcela importantíssima da população.

“Esse aspecto social da logística reversa e da sustentabilidade são o fruto desse mundo que nós vivemos. Com a pandemia, esse mundo novo deve apresentar outras características e um outro nível de exigência.”

A PNRS explicita que um dos seus princípios, conforme o artigo 6, é o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania. Esse conceito possui plena sinergia com a fala acima, proferida por Nathan Herszkowicz, presidente executivo do Sindicafé/SP e Presidente do Conselho Gestor do Instituto Rever.

Na lei fica claro o papel da reciclagem para fomentar a inclusão social no país, por meio da coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. E com a atuação da eureciclo, para nós se torna uma missão especial a de valorizar as instituições e os profissionais que estão lidando diretamente com esses materiais. Somente de 2019 para 2020, a remuneração dos operadores parceiros cresceu 79, 60%, conforme nosso Relatório de Desempenho. Tais esforços, contudo, não são obtidos sozinhos e seguem um outro princípio da Política Nacional de Resíduos Sólidos: a da responsabilidade compartilhada.

“Todos os elos da cadeia têm de estar envolvidos, inclusive o consumidor final”

Percebemos o quão benéfica a logística reversa pode ser para o meio ambiente e para a sociedade, porém, segundo Ricardo Garcia (autor da frase acima), para ela ter o seu funcionamento pleno é necessária que toda a cadeia de produção esteja em harmonia.

Nosso convidado e parceiro, destacou a participação do consumidor nesse processo, pois é ele quem determinará se o resíduo terá como destinação o ciclo da logística reversa ou outra destinação, que, na maioria das vezes, serão os aterros sanitários, controlados ou os lixões.

Em consonância com a fala do Ricardo, para o Dr. Luis Fernando Barreto, é importante aumentar a percepção da sociedade para a logística reversa, pois ela só será mais bem implementada no Brasil quando o consumidor fizer a destinação correta do resíduo que gera.

Da mesma forma, Barreto complementou apontando que as empresas também têm uma grande responsabilidade nesse processo. Elas precisam readequar os seus processos produtivos para que a logística reversa funcione. Além disso, o promotor falou sobre a função do Poder Público: fiscalizar e intervir quando necessário. Por fim, salientou que o cenário ideal vai acontecer quando a logística reversa estiver tão bem estruturada no Brasil que nem precisará de um controle tão minucioso por parte do Estado.

“É um desafio nos estados a implementação da logística reversa”

O Brasil é um país com extensões continentais e com regiões muito diferentes entre si. Vou recorrer novamente ao colega Ricardo ao falar que “o Brasil é um mundo!”. Cada estado tem a sua particularidade e foi, nesse sentido, que ele abordou o desafio de cada lugar em implementar a logística reversa.

O Panorama também representa isso, pois buscamos trazer personagens relevantes de estados diferentes para conhecermos um pouco sobre o processo que cada região está passando para aderir à economia circular.

O engenheiro Valmi Simão de Lima compartilhou conosco a realidade do Mato Grosso. Segundo o superintendente, o estado já tem um bom manejo do funcionamento da logística reversa, principalmente ao se tratar de embalagens de produtos agrícolas. O Mato Grosso, inclusive, é o território que mais tem devolução desse tipo de resíduo do Brasil. 

E as metas são ambiciosas! Valmi afirmou no evento que a intenção do Mato Grosso é ampliar ainda mais esse mecanismo. Ele acredita que a parceria entre a eureciclo e o estado vai render bons frutos nesse sentido.

Na questão legal, o engenheiro nos trouxe a informação de que a Universidade Federal do Mato Grosso está elaborando o Plano Estadual de Resíduos Sólidos do MT e que isso pode ajudar na implementação mais a fundo da logística reversa no estado.

Dentro desse contexto, o Dr. Barreto também trouxe uma excelente contribuição, citando que o tamanho do Brasil pode causar algumas dificuldades, mas que essas particularidades regionais são excelentes oportunidades para cada estado gerar empregos de acordo com as suas respectivas realidades.

Foi dessa forma que o nosso debate sobre logística reversa aconteceu. Tivemos muitos conhecimentos compartilhados e a certeza, mais uma vez, de que esse trabalho é imprescindível para fomentarmos o desenvolvimento sustentável.

Além disso, não posso deixar de dizer mais uma vez que foi um grande prazer ter sido a mediadora desse evento.. 

É muito bom saber que a eureciclo cresce cada dia mais e que estamos cada vez mais próximos de ultrapassarmos as metas de reciclagem no Brasil!
Conte conosco. Para qualquer dúvida, fale com nossos consultores.

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